O termo grego phainein, “mostrar, manifestar” originou muitas palavras no nosso idioma. Como exemplos, podemos citar os substantivos “fenômeno” (um evento observável, que se manifesta) e “fantasia” (outro tipo de manifestação, mas desta vez ilusória, inventada). Mas há também outra que derivou daquele termo grego que é justamente o nosso alvo de análise neste texto: a palavra fantasma – uma aparição; algo sobrenatural que se manifesta.
Os fantasmas (pelo menos os do imaginário coletivo) têm praticamente o mesmo tempo de existência que o homem e, ainda hoje, mesmo com todo o desenvolvimento cultural e tecnológico que o ser humano já conquistou, ainda botam medo em muita gente. Exatamente por isso (por gerar adrenalina com o medo), talvez, é que os filmes de terror fazem tanto sucesso.
Uma boa prova de que o medo de assombrações é bastante antigo está contida na própria Bíblia. Você consegue se lembrar de alguma passagem a respeito? Quem será o medroso? Arrisca um palpite? Deve ser uma pessoa covarde, é o que você provavelmente está pensando. Uma dica: não foi apenas um indivíduo que demonstrou essa fobia, mas vários. Vou deixar esse parágrafo pra você pensar e dou a resposta no próximo.
Não se surpreenda, mas essas pessoas de que falo são, nada mais nada menos, do que os próprios discípulos. Mais sério ainda do que isso é o fato de eles terem confundido o próprio Jesus com uma assombração:
“Logo a seguir, compeliu Jesus os discípulos a embarcar e passar adiante dele para o outro lado, enquanto ele despedia as multidões. E, despedidas as multidões, subiu ao monte, a fim de orar sozinho. Em caindo a tarde, lá estava ele, só. Entretanto o barco já estava longe, a muitos estádios da terra, açoitado pelas ondas; porque o vento era contrário. Na quarta vigília da noite, foi Jesus ter com eles, andando por sobre o mar. E os discípulos, ao verem-no andando sobre as águas, ficaram aterrados e exclamaram: É um fantasma! E, tomados de medo, gritaram” (Mt 14 22-26).
Se prestarmos bastante atenção, veremos que, até Pedro, o qual, como bem sabemos, tinha um gênio ranzinza e adorava expor sua audácia e coragem (a ponto de, por exemplo, fatiar a orelha do oficial que queria prender Jesus, como relatado em João 18) estava no meio dos medrosos. Inclusive, como se segue na passagem de Mateus (vv. 27-32), ele ainda tenta salvar sua reputação, mas tudo que consegue é se rebaixar mais ainda expondo sua falta de fé.
Mas parece que os discípulos gostavam de confundir Cristo com fantasmas. Após sua ressurreição, já com um corpo glorificado, Jesus apareceu de novo de surpresa aos discípulos. E, mais uma vez, qual foi a reação deles? “Surpresos e atemorizados, acreditaram estarem vendo um espírito [i.e., fantasma]” (Lc 24:37). Tudo bem que com este corpo Cristo atravessava paredes e se teleportava... mas não é disso que estou falando.
O ponto é que, muitas vezes, esperamos por um Jesus diferente do que ele é. Há aqueles que esperam por um Senhor que traga bênçãos materiais; outros esperam por um Deus que os cure; outros ainda esperam por um Jesus que obedeça a suas ordens e determinações. Muitos já perderam a esperança por não encontrarem o Messias pelo qual procuravam. Outros ainda, os da “linha dura”, blasfemam contra Deus e praguejam contra o cristianismo pelo fato de o Criador não se revelar a eles. Quem nunca ouviu alguém dizer: “Se Deus quisesse que eu acreditasse nele ele arranjaria um jeito de se revelar pra mim”? Ou então alguém questionar os justos juízos do Senhor, dizendo: “Seu Deus não pode me condenar... foi ele mesmo que me fez assim”?
O problema é que Deus não é produto da imaginação humana. Sua revelação está na Santa Palavra; Ele é o que é, e não o que nós queremos que Ele seja. Precisamos compreender que a lógica do Senhor funciona através da graça: Ele dá coisas a quem não as merece, conforme Sua livre, independente e espontânea vontade. Precisamos compreender que não está nos planos do Criador se revelar ao homem, e isso de maneira alguma implica em sua não existência. Em muitas coisas acreditamos por fé, e essa é uma delas – você também não vê, por exemplo, os raios gama e aposto que nunca fez algum experimento que prove sua existência, mas mesmo assim você crê que eles existem. Por quê? Porque alguém te contou; alguém confiável. Deus é assim: é como se Ele fosse os raios gama e as Escrituras fossem a fonte.
Mas a grande verdade, meus caros, é que as pessoas que esperam por um Deus diferente de como Ele é, mais cedo ou mais tarde, vão se surpreender. Tomemos como exemplo a reação dos próprios discípulos. Um dia Cristo vai vir e, se Ele não vier como você espera, acho que você não vai se dar muito bem. Que tal, então, procurar conhecer o verdadeiro Jesus agora, enquanto há tempo? Acho bom você avaliar bem essa sugestão, pois, se Ele vir e você confundi-lo com um fantasma, aposto que, no fim das contas, o resultado para você será bem mais atemorizante do que o melhor filme de terror que você já assistiu...