Você já conheceu alguém chamado Jaime? E Iago? Diego ou Diogo? Já viu alguma moça com o nome de Jacqueline? E aquele nome inglês James, como o do famoso espião 007? Já ouviu algum destes?
Acho muito difícil que você tenha respondido esta última pergunta com um “não”. Mas o que todos esses nomes têm a ver uns com os outros? O que acontece é que, por mais incrível que pareça, todos esses nomes, incluindo o que está no título, têm uma origem comum. Ela está em – vejam só – “Jacó”, nome que ganhou prestígio, é claro, graças ao personagem bíblico que assim se chamava. Trocando em miúdos: todos esses nomes que eu citei acima (entre muitos outros) são transliterações, ou seja, variações do nome hebraico “Jacó”.
Eu sei, “Tiago” não parece nem um pouco com “Jaime”. Mas acredite em mim. Passando de idioma pra idioma, “Jacó” (que originalmente, em hebraico, era pronunciado mais ou menos como “Iacób”) conquistou as mais diferentes variações possíveis. Dá para dizer com segurança que é o nome com maior número de equivalentes que existe. Mas qual é o significado desse nome?
Bem, na língua hebraica “Jacó” era um jogo de palavras que derivava do termo para calcanhar. Dá-se a entender, portanto – até pela forma como nasceu Jacó (Gn 25:26) – que o jogo de palavras queria significar “aquele que segura o calcanhar”. É daí que vem o trocadilho que nos faz crer que “Jacó” significa “trapaceiro”, “suplantador”, já que é normalmente em situações de disputa que alguém tenta puxar o pé do outro, fazendo isso com intenção de trapacear.
Após esses esclarecimentos, podemos ir ao foco de nosso artigo, que é a palavra, ou melhor, o nome “Tiago”. Está claro, portanto, que “Jacó” e por tabela todas as suas transliterações (incluindo “Tiago”) têm o significado de “suplantador”. No entanto, apesar disso, as quatro pessoas que encontramos no Novo Testamento chamadas assim não fazem nem um pouco jus ao significado de seu nome.
A mais destacada delas foi o irmão de Jesus. Foi ele o autor da epístola bíblica que leva o seu nome. Ao que se sabe, Tiago teve uma conversão tardia, pois em Jo 7.5 está escrito que nem os irmãos de Jesus criam nele. Mas não é de se admirar: já imaginou que frustrante seria ter como irmão Jesus Cristo? Não me interprete mal, o que quero dizer é que ter um irmão realmente especial, sem pecado, que não errava nunca e que ainda por cima aos 30 anos abandonou os negócios de casa pra viver como um nômade, sendo ridicularizado por todos e humilhando o nome da família, não deve ser uma experiência muito agradável. Os ciúmes e a decepção deveriam ser corriqueiros entre os irmãos de Jesus. De qualquer modo, o que importa é que, posteriormente, Tiago não só se converteu como se tornou um dos líderes da Igreja primitiva, ao ponto de chefiar o primeiro Concílio dos cristãos em Jerusalém (15:1-35).
Outro Tiago que encontramos no NT é o irmão de João, filho de Zebedeu, e um dos doze apóstolos. Junto com Pedro e seu irmão, compunha o trio a que mais Jesus era apegado aqui na Terra. Esses três eram sócios num negócio de pescaria (Lc 5:10), até que Cristo os chamou para o ministério. Em um certo momento, parece que os filhos de Zebedeu confundiram um pouco as coisas e pensaram que o prestígio que tinham com o Salvador lhes valeria para conseguirem alguma “posição” (Mc 10:35-45), o que obviamente causou indignação nos outros dez apóstolos. A resposta de Jesus foi enérgica: “quem quiser tornar-se grande entre vós, será esse o que vos sirva”. Tiago, pelo jeito, aprendeu a lição – tanto que chegou a ser o primeiro dos doze a ser martirizado (At 12:1-2).
O terceiro Tiago que encontramos na Bíblia é o pai de Judas Tadeu (Lc 6:16), outro dos apóstolos de Jesus. O quarto é mais um deles, o segundo dos discípulos que respondiam pelo nome de Tiago (Mt 10:3). É provável que ele fosse primo de Jesus. Em Marcos 15:40, foi chamado de “menor”. Talvez por ser mais baixo do que o outro? Talvez por ser mais novo? Talvez por ser menos importante? A resposta não sabemos, mas de uma coisa tenho certeza: esse apelido não é tão ruim quanto parece. Veja o que Jesus disse: “Pois aquele dentre vós que for o menor, este será o maior” (Lc 9:48).
Conseguimos aprender bastantes coisas com esses Tiagos. Com o irmão de Jesus aprendemos que viver próximo à luz de forma alguma significa viver dentro da luz; mas, por outro lado, também aprendemos que uma pessoa quando menos esperar pode receber a chamada divina, compreender sua depravada situação e passar a servir a Ele. O Tiago filho de Zebedeu nos ensina com sua biografia que o orgulho e a ganância por poder não têm lugar na obra do Senhor. A vida do terceiro Tiago nos mostra que pode valer bastante a pena proporcionar uma boa criação a nossos filhos. Por fim, aprendemos com o último Tiago que ser “menor”, na lógica de Cristo, é mais honroso do que ser “maior”. E então, que tal agora colocar em prática tudo o que você aprendeu com esses xarás?